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Em Busca Da Maturidade Musical (Crítica e Reflexão)

Comecei estudar Piano Erudito aos 8 anos de idade (outubro de 1990), aos 9 tocava na igreja como tecladista do time reserva (risos), aos 12 passei a ser oficial, fiz diversos cursos livres de canto, teclado & tecnologia, bateria, violão popular, trombone de vara, flauta, (etc.) e aos 14 liderei um coral de adultos de um igreja de aproximadamente 500 membros (além de dar-lhes aulas de teoria musical e passar toda a divisão de vozes das canções ), aos 16 anos tirei minha carteira profissional da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil) porque comecei a trabalhar com produções musicais publicitárias para rádio e TV (em dois anos foram mais de 300 pequenas produções de jingles, spots, vinhetas, trilhas sonoras e arranjos de estilos mais variados possíveis), aos 18 comecei a me dedicar a produções fonográficas. Paralelamente a todos esses eventos, toquei com artistas gospel nacionais, terminei ensino médio, fiz engenharia da computação e passei uma temporada de quatro anos na seção de informática da justiça federal, dei aula de informática em um cursinho preparatório para concursos públicos (foram aproximadamente 2000 alunos em dois anos de trabalhos nessa área). Depois iniciei o curso na área de comunicação social e me formei em Marketing. Quem quiser mais detalhes sobre minha trajetória musical, sugiro que visite minha página no www.facebook.com/GlauberFelipe e clique em Sobre (ou About) ou mesmo uma postagem que tem uma imagem escrita Trajetória Musical. Minha intenção aqui não é fazer uma biografia, mas apenas trazer uma contextualização musical deste ramo magnífico que estou inserido.

Comecei a dar aulas de música em 1998 e, de lá pra cá, centenas de alunos passaram por minhas mãos de norte a sul do Brasil, sem contar com os participantes de palestras/workshops, alunos brasileiros pelo Skype em pelo menos três continentes distintos e, com tantas experiências, alegrias, tristezas, lágrimas, mas também momentos de muito júbilo, acredito que tenho um pouquinho de conhecimento que pode ser levado em consideração nos artigos que escrevemos durante alguns desses anos para revistas, sites de eventos e notícias, jornais, entrevistas, fanpage, etc.

Quando eu era pequeno e comecei a tocar com bandas, sempre tinham aqueles que chamávamos de Os Feras e o tínhamos como referência musical para nós. Quando estávamos tocando e, de longe eu via aquele músico Fera chegando, já me dava um tremelique. Mesmo dentro da igreja, sim acontece! Hehehe… não tem quem negue! Mesmo que a gente diga que está fazendo para Jesus, mas entra um músico instrumentista ou cantor bom, a gente se reprime um pouco né? Em meu escritório, sempre recebi diversos emails de músicos entrando em contato pelo nosso canal YouTube ou nosso website oficial pedindo aulas. Mas o que mais me intrigava era que em 90% dos casos, queriam aprender a tocar Blues e Jazz, ou pediam pra aprender Modos Gregos, Escalas Exóticas! Parecia que ali seus problemas estariam todos resolvidos. Quando eu lhes fazia algumas perguntas, eles não sabiam coisas do ensino básico musical. Mas havia uma certeza em meu coração: eles estavam preocupados não apenas em aprender novas linguagens musicais, mas queriam IMPRESSIONAR ALGUÉM.

É neste ponto que quero chegar: a partir do momento que passamos de meros instrumentistas ou cantores, ou seja, o lado daqueles que se empenham uma vida toda para tocar melhor, estudar técnicas (quaisquer instrumentos que sejam), para o lado de produtor/arranjador, então mudamos radicalmente de opinião em relação a muitos ideiais e conceitos dentro da música. Nós deixamos de ser simplesmente reprodutores ou executores de música e passamos a pensar como criadores de arranjos musicais e vocais. É como se a vida toda tivéssemos sido treinados a ler caracteres de um novo idioma, mas agora partíssemos para a parte da escrita e obedecendo todas as regras e seqüências de traços daqueles ideogramas. Te convido, inclusive, a fazer este teste: estudar produção musical.

Como produtor, já acompanhei e dirigi gravação de clientes que cantavam há mais de 20 anos na estrada musical, gente de nome, passarem aproximadamente 2h para conseguirem concluir a gravação da voz principal de apenas 1 música. Também já vi (e diversas vezes) músicos de excelente conhecimento técnico-instrumental não conseguirem gravar uma música sequer em estúdio porque não conseguiam acompanhar o andamento regido pelo metrônomo. Como produtor, não podemos deixar que nossas preferências musicais abafem o estilo do cliente. Precisamos nos despir de nossos estilos favoritos e vestir a camisa do estilo do cliente, aplicando-lhe as melhores referências possíveis de groove, células rítmicas, timbragem, etc., até que consigamos superar as expectativas daquele cliente (essa sem dúvida é a melhor parte). Mas a pior parte é o músico contratado querer colocar na música tudo o que ele sabe fazer em seu instrumento, pois ele acaba atropelando detalhes sutis que atrapalham em muito não apenas os arranjos de outros instrumentos, mas os choques de freqüências dentro de uma mixagem profissional. Mesmo que contratemos os melhores músicos de um país para participarem da ficha técnica de um trabalho fonográfico, ao chegarem no estúdio eles perguntarão: o quê e como eu tenho que tocar? Pois, mesmo sendo os melhores, se cada um desses músicos for tocar o que lhes bem convier, não estaremos fazendo uma música e sim uma salada de frutas. Vai ficar horrível, mesmo eles sendo os tops.

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Como músicos, podem estudar sim, os mais variados estilos musicais para que melhorem seu vocabulário harmônico, melódico, licks, riffs, fills, agilidade, velocidade, precisão, etc., mas na hora de juntar com uma galera pra tocar, o que deve prevalecer é o arranjo e não seu talento. Quando realizamos um ensaio profissional, com gente profissional, gente madura, até os momentos de improviso são combinados. A forma como o guitarrista fará o seu solo, é algo dele, mas todos da banda já sabem que naquele momento entrará um solo de guitarra. No momento dos breaks, contratempos, síncopes da música, todos da banda precisam fazer igual… isso já terá sido combinado em ensaio. As harmonias da música também devem soar conforme o planejamento do arranjador ou do arranjo original. Mas o que mais vemos são músicos (que se dizem profissionais) fazendo suas firulas intermináveis e sujando totalmente o arranjo da canção original, pegando de surpresa os demais músicos da banda. Não demora muito, o guitarrista está sobrepondo o arranjo do baixista, depois o baterista com seus ataques de overheads cruzando os compassos da música… o saxofonista ou o violinista que não larga a mão do instrumento… o percussionista que quer aproveitar a apresentação pra testar e ensaiar novos movimentos… Daí não dá, né pessoal??? De salada de fruta, vira omelete!

É nesse momento que entra em ação a figura do músico que toca menos, canta menos, conhece menos, mas toca bem dentro do andamento do metrônomo e, em sua autodisciplina, consegue traduzir em sua própria mente toda a dinâmica sugerida pelo autor da obra em concordância com o arranjador e produtor contratados. Resultado disso? Bom… economia de tempo (e tempo em estúdio é dinheiro… muuuuuito dinheiro). Tempo de quê? Hehehe… tempo de horas e mais horas de edição corretiva da gravação do baterista que se dizia fera, colocar tudo no tempo (uma espécie de quantização), kick de pedal duplo em que a perna direita do cara é mais forte que a esquerda… daí lá vamos nós corrigirmos com compressor; guitarrista que fica querendo solar o tempo inteiro; baixista que não para de fazer slaps na música e vive saindo do tempo também… tecladistas que ficam conflitando seus graves com o arranjo do baixista ou que fica tentando criar acordes na região aguda conflitando com o arranjo de outros instrumentos, além de atrapalhar a fase posterior que será a mixagem … e tudo isso vai comendo…comendo…comendo… a paciência dos técnicos e auxiliares de captação, a paciência do produtor e a paciência do cara que está pagando todas essas horas de edição durante a correção.

É aí que todos aqueles seus 20 anos de estrada, cantando nos palcos da vida, todos aqueles anos e noites mal dormidas de estudos em Blues e Jazz, estudos de escalas exóticas e modos gregos… vão tudo pelo buraco do ralo. Por quê? Porque o FOCO estava simplesmente na técnica como objeto de estudo, mas totalmente descontextualizado da prática de conjunto em banda e esqueceu que música não é formada apenas por Melodia e Harmonia, mas sobretudo de Ritmo (tocar no tempo, tocar com pegada, tocar com feeling, tocar para a música e não para o músico…).

Instrumentistas e cantores, por favor: voltemos a analisar qual o conceito e definição de O Que É Música?! Muitos dizem que é a arte de expressar sentimentos e emoções através do som, suas propriedades e o silêncio. Essa definição é subjetiva, pois tem uma conotação diferente para cada um de nós. Mas uma certeza eu tenho: se não tiver paixão, não haverá sentimento e nem emoção… apenas uma alma penada executando técnicas vazias e evasivas, enganando a si próprio, enganando os ouvidos dos amigos, enganando os contratantes e deixando que a concorrência (músico que toca menos e que vai levar toda a grana da contratação em estúdio) seja contratado rapidamente e consiga resolver os problemas do arranjador em poucos minutos. Não toque para músicos, toque para a Música! Simplesmente deixe que o seu tocar toque também corações e, o principal deles: o coração de Deus.

Tocar ou Cantar devem ser encarados como um instrumento de comunicação. Os estilos musicais como os idiomas (aprenda e estude vários mesmo). O andamento do metrônomo e a autodisciplina como as leis de trânsito. Se você reconhece que o dom e talento que tens foi Deus quem te deu, então não faça um mau uso de seu instrumento de comunicação. Utilize-o como ferramenta poderosa de conexão do Amor de Deus com o Seu povo, e não como ferramenta de comunicação entre você e seus fãs que, um dia, vão te abandonar e passar a observar outro músico. Mas Deus nunca te abandonará. Pare de ficar analisando outros músicos sob sua ótica de um mero instrumentista e, caso queiras analisar, analise sob a ótica do contexto da canção (estilo musical, timbragem, se os arranjos atingiram os objetivos do contratante e do produtor, etc.). Estudar diversos estilos musicais não torna um músico capaz de tocar qualquer coisa e em qualquer CD, pois ainda tem o desafio do metrônomo, da pegada, do feeling e principalmente da praia da maturidade musical que leva anos para se conquistar.

Daquele que até hoje está em busca dessa maturidade musical,

GLAUBER FELIPE

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